Segundo Cacá Araújo, presidente da Fundação de Folclore Mestre Elói, a banda cabaçal é “um conjunto musical simples e rústico, constituído de instrumentos de sopro e percussão, que toca marchas, galopes, modinhas, rodas e valsas, também chamada ‘Banda de Couro’ ou ‘Terno de Zabumba’”. Formada por dois pifes (pífanos ou pífaros), um zabumba e uma “caixa”, as bandas cabaçais se espalham entre Pernambuco, Paraíba e Ceará, animando as festas religiosas e profanas dos sertões
"A denominação desse extraordinário conjunto musical, veículo de comunicação de massas e portador de legítima autenticidade folclórica, vem do fato de que, antigamente, os tambores (zabumbas e caixas ou taróis) eram confeccionados com peles de bode ou carneiro estiradas sobre enormes cascas de cabaças secas e cortadas”, explica Cacá.
A Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto surgiu ainda no século XIX, tendo como fundador José Lourenço da Silva, o Aniceto. Desde então, vem sendo tocada por seus amigos, filhos e netos, todos agricultores de Crato. Depois de algumas mudanças em sua formação, a banda hoje é mantida por Antonio José Lourenço da Silva e Raimundo José da Silva (pifes), Adriano Pereira da Silva, filho de Antonio (zabumba), Cícero dos Santos Silva, (caixa), José Joval dos Santos Silva (pratos) e José Vicente da Silva, o “Azul” ou “Hugue”, que atua como uma espécie de coringa, ou substituto, no dizer do Mestre Raimundo, transitando por todos os instrumentos, no impedimento de algum dos titulares.
Outra “reserva” envolve os bisnetos do “Véi” Anicete, que vêm participando dos ensaios e algumas apresentações. Adriano Aniceto (neto do fundador) conta um pouco dessa saga: “Nossos filhos já são suficientes para montar mais de uma bandinha, estamos preparando eles”. A estréia da banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto Mirim aconteceu na Semana do Folclore de 2005, em Crato mesmo. A bandinha é formada Gutierrez, Hálisson, Ivanilson, João Victor, Marcos e Douglas, a maioria deles filhos do Adriano.
A família descende de índios Cariri. Segundo o jornalista Pablo Assumpção, em seu livro “Anicete - quando os índios dançam” a banda cabaçal reúne “atores que desempenham uma performance única e que mescla o passo matreiro e intuitivo de cada um com modos ancestrais de dançar e imitar animais, aprendidos com as gerações indígenas da família. É essa performance que evolui em danças e trejeitos bem particulares que os diferencia de qualquer outra banda. Uma espécie de ritual secular que apresenta a força das coisas inéditas”.
Originária dos terreiros, pés de serra e da periferia do Crato, a Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto já alcançou considerável projeção regional, nacional e européia, inclusive brilhando ao lado de Hermeto Pascoal e do Quinteto Violado. Em 1998, participou de uma temporada de um mês e quatro dias no espetáculo “Ciranda dos Homens, Carnaval dos Animais”, do coreógrafo Ivaldo Bertazzo, no Teatro do SESC Pompéia (SP).
A obra dos Irmãos Aniceto ganhou três registros fonográficos: um disco compacto pelo Ministério da Educação e Cultura (1978), um CD lançado pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, através do Projeto Memória do Povo Cearense, produzido pela Equatorial Produções e Cariri Discos (1999) e “Forró no Cariri” (2004), novamente pela Equatorial Produções e Cariri Discos. A mais popular banda cabaçal cearense também participou de filmes e documentários para TV.
Desde 2004, o Mestre Raimundo Aniceto foi reconhecido pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará como Mestre da Cultura Tradicional Popular do Estado do Ceará, recebendo diploma concedido pelo Governador do Estado. Participaram das duas edições do Encontro dos Mestres do Mundo, promovidas pela Secult em Limoeiro do Norte e Russas, em junho de 2005 e 2006.
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